Circula nas redes sociais que o swab (“cotonete”) utilizado na coleta de secreção oral e nasal para a testagem da Covid-19 atinge a barreira hematoencefálica, membrana que protege o cérebro de partículas potencialmente danosas que circulam no sangue. O post que circula pelo Facebook afirma que se essa barreira é danificada, o cérebro pode sofrer uma inflamação que pode resultar em problemas graves de saúde, e até a morte. Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“O local onde eles estão a “obter uma amostra′′ para o teste Covid-19 chama-se (Barreira cerebral de Sangue.) É uma única camada de células que protegem o seu cérebro de metais pesados, pesticidas e outras substâncias tóxicas que geralmente são mantidas fora. É a forma como nutrientes vitais, como o oxigênio, chegam ao cérebro”
Legenda de imagem que circula pelo Facebook que, até às 20h do dia 15 de julho de 2020, tinha sido compartilhada por quase 200 pessoas
A informação analisada pela Lupa é falsa. O swab – cotonete com uma haste de plástico utilizado para realizar um dos testes de detecção da Covid-19 – é inserido no nariz ou na boca e não consegue alcançar a barreira hematoencefálica, membrana que protege o cérebro de partículas potencialmente danosas que circulam no sangue. Essa barreira recobre todo o córtex cerebral como uma capa. Por sua vez, a cavidade nasal, um dos locais onde o swab pode ser inserido, é separada do cérebro por tecido ósseo, além de outras estruturas. Logo, para esse instrumento tocar a barreira hematoencefálica, ele teria que atravessar um osso – o que, obviamente, não acontece.
A coordenadora do Departamento Científico de Neuroinfecção da Academia Brasileira Neurologia (ABN), Cristiane Nascimento Soares, classifica o texto como “fake news”. Segundo ela, o swab atinge somente a nasofaringe para coletar secreções necessárias para a análise laboratorial. Não é possível que ele atinja a membrana hematoencefálica
Essa informação também foi desmentida pelo infectologista Alvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Ele afirma que não existe nenhum risco do swab atingir a barreira hematoencefálica. “É um exame completamente seguro e importante para o diagnóstico da Covid-19 na fase aguda da doença, quando o paciente tem sintomas”, disse o médico.
O “cotonete” é um dos materiais utilizados para realizar o teste RT-PCR. A secreção é coletada com o uso do swab na boca ou no nariz do paciente e armazenada. O RT-PCR é uma técnica que detecta a presença ou ausência do DNA do novo coronavírus, podendo dar o diagnóstico. Pessoas que realizaram esse procedimento relatam que o exame é desconfortável, mas isso não significa que houve o rompimento de alguma estrutura importante dentro do corpo.
Além do RT-PCR, existe ainda o exame sorológico (popularmente conhecido como teste rápido), em que é coletado uma amostra do sangue do paciente. O teste é capaz de identificar os níveis de anticorpos no sangue e, por essa razão, só é recomendado a partir do 10º dia do início dos sintomas.
O swab não é uma invenção recente. Esse equipamento é bastante utilizado nos Centros de Terapia Intensiva (CTI) para identificar bactérias em pacientes internados.
“Se, de alguma forma, a sua Barreira de Cérebro Sangue está comprometida, (…) o cérebro [torna-se] inflamado! Permite então que bactérias e outras toxinas entrem no seu cérebro e infectem o tecido cerebral que pode levar à inflamação e às vezes à morte”
Legenda de imagem que circula pelo Facebook que, até às 20h do dia 15 de julho de 2020, tinha sido compartilhada por quase 200 pessoas
A coordenadora do Departamento Científico de Neuroinfecção da Academia Brasileira Neurologia (ABN), Cristiane Nascimento Soares, afirma que o comprometimento da barreira hematoencefálica pode causar uma inflamação no cérebro. A estrutura é responsável por filtrar o sangue que chega ao órgão. Portanto, danos nessa estrutura podem ter consequências graves. A especialista afirma que esse dano pode ser o resultado de doenças como meningite, encefalite e esclerose múltipla.
Contudo, como explicado acima, o swab não consegue alcançar a barreira hematoencefálica e, portanto, não é possível que ele danifique a estrutura.
Esse texto também circulou nos Estados Unidos, e foi verificado pela Associated Press e pelo Politifact. No Brasil, essa informação também foi checada pelo Aos Fatos e pelo Estadão Verifica.
Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook.
Editado por: Chico Marés