Circula nas redes sociais que a porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS) Margaret Harris teria dito que nunca aconselhou a aplicação de confirmamento como uma medida de combate ao novo coronavírus. Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Todos, agora, tirando o seu da reta: Porta-voz da OMS, diz que nunca aconselhou a aplicação de confinamento, como medida para o combate ao coronavírus”
Texto publicado no Facebook que, até às 14h do dia 9 de junho de 2020, tinha sido compartilhado por cerca de 900 pessoas
A informação analisada pela Lupa é falsa. O texto que circula pelas redes distorce uma entrevista concedida pela porta-voz da OMS Margaret Harris, em abril, para o jornal The Sydney Morning Herald. Na ocasião, Harris estava comentando a flexibilização de restrições sociais que estavam acontecendo na Austrália e na Nova Zelândia. Segundo a representante, esses dois países conseguiram aplicar medidas fortes de isolamento e rastreamento do vírus paralelamente, o que permitiu um controle maior da pandemia. Após decretar medidas severas de restrição de movimentos, a Nova Zelândia zerou o número de casos no país, enquanto a Austrália registrou apenas 5 novos casos na última segunda-feira (8).
Durante a entrevista, Harris disse o seguinte: “Nunca dissemos entrar em confinamento – dissemos rastrear, rastrear, isolar, tratar”, disse. Contudo, ela não estava afirmando que medidas de isolamento são desaconselháveis. Na realidade, Harris estava criticando países que aplicaram apenas essa medida sem considerar outras ações importantes, como o rastreamento de pessoas infectadas.
Na época, ela usou o exemplo de Wuhan, cidade chinesa que foi a fonte do vírus responsável pela Covid-19. “Acho que muitos países passaram por restrições muito grandes quando olharam para Wuhan e viram isso funcionando. Mas eles não olharam para o que aconteceu também em Wuhan, que era um rastreamento de contato muito agressivo, isolamento muito agressivo de pessoas que tinham contato, garantindo que essas pessoas não fossem a lugar algum, e testes muito difundidos. Portanto, havia muito mais do que simplesmente fechar o local”, disse.
Harris elogiou a atuação da Nova Zelândia e da Austrália durante a pandemia, classificando os dois países como exemplos a serem seguidos do ponto de vista da OMS. E os dois países instituíram isolamento social ainda no início da crise, além de outras medidas.
Em 23 de março, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, anunciou isolamento total no país, a ser iniciado em 48 horas. Apenas atividades indispensáveis, como mercados, farmácias e serviços de saúde continuaram abertos. Os resultados foram bastante positivos. Nesta segunda-feira, o país anunciou não ter mais nenhum caso ativo da doença. Já faz 17 dias que não são registrados novos casos. Assim, o país voltou à normalidade, embora viagens internacionais continuem suspensas.
No mesmo dia 23 de março, a Austrália começou a aplicar regras bastante restritivas de isolamento social em nível nacional – alguns estados já haviam instituído regras próprias. Ao contrário da Nova Zelândia, a Austrália ainda tem casos ativos, mas isolados. Segundo o último boletim da OMS, de 8 de junho, a presença do vírus foi detectada em apenas 5 novos pacientes na última segunda-feira. Assim, o país também está começando a levantar restrições de movimento.
Por fim, ao contrário do que indica o post analisado pela Lupa, essa entrevista foi concedida em 27 de abril, ou seja, também não se trata de uma declaração recente.
Em seu site, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a população permanecer em casa e se auto-isolar como uma das medidas de prevenção contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A entidade indica ainda que, caso uma pessoa precise sair de casa, é recomendável usar máscaras para reduzir as chances de contágio.
Uma checagem semelhante foi feita pelo Estadão Verifica.
Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook.
Editado por: Chico Marés