Circula pelo WhatsApp um texto que diz que pessoas imunizadas com a vacina da Pfizer/BioNTech podem transmitir o vírus da covid-19 por meio de inalação ou contato com a pele. O artigo menciona ainda o risco de grávidas sofrerem abortos espontâneos e outros problemas reprodutivos ao tomarem a vacina da farmacêutica norte-americana. Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação:
“Pfizer admite em seu próprio documento de mRNA que os não vacinados podem ser expostos às proteínas spike da vacina por inalação ou contato com a pele”
A informação analisada pela Lupa é falsa. O texto cita como “fonte” o relatório final da pesquisa desenvolvida pela Pfizer para o desenvolvimento de sua vacina contra a Covid-19, publicado em dezembro de 2020. Contudo, o texto traz, na verdade, link para o plano inicial de estudos, um documento de 146 páginas no qual a companhia detalha ponto a ponto como o estudo será realizado, e como deve proceder caso determinadas situações aconteçam. Ou seja, trata-se de um texto anterior à aplicação da vacina, e não posterior, que cita situações hipotéticas.
O capítulo 8 do projeto descreve os procedimentos que devem ser adotados durante a pesquisa, incluindo um detalhamento sobre a forma como eventos adversos deveriam ser reportados aos pesquisadores. O texto do blog aponta para o item 8.3.5.1, localizado na página 67. Nele, a farmacêutica especifica os procedimentos necessários em caso de “exposição [aos testes da vacina] durante a gravidez”.
Nesse trecho, a Pfizer informa que monitoraria, entre outros grupos, mulheres grávidas que tiveram contato com o imunizante “por meio de inalação ou contato com a pele” ao longo do período de estudo — como pode ser o caso de uma enfermeira que aplica doses da vacina, por exemplo.
Esse monitoramento tinha como objetivo antecipar possíveis eventos adversos graves causados por esse contato. Isso não significa, contudo, que esses efeitos foram verificados. Pelo contrário, essa informação não consta em nenhum relatório posterior ao estudo.
O termo mRNA, que significa RNA mensageiro, faz referência à tecnologia utilizada na vacina da Pfizer. O imunizante induz a célula a produzir a proteína spike do SARS-CoV-2, a estrutura utilizada pelo vírus para invadir as células, estimulando as células de defesa a reconhecer e reagir contra elas — e, consequentemente, contra o vírus, em caso de infecção real. Essa é uma maneira de fazer vacinas sem precisar usar o próprio vírus, inativado ou atenuado, é pode baratear significativamente o custo de produção das vacinas no futuro.
Vale pontuar que o mRNA da vacina não interage com o DNA das células do corpo humano e, portanto, não existe nenhum risco de alteração genética causada pela vacina.
“O documento continua revelando que mulheres vacinadas que estão grávidas podem sofrer abortos espontâneos e outros problemas reprodutivos – e pessoas não vacinadas que entram em contato com elas também podem. As mães vacinadas também podem passar o que quer que esteja contido na injeção Pfizer para seus bebês através do leite materno contaminado”
A informação analisada pela Lupa é falsa. Como explicado acima, o relatório não fala dos efeitos da vacina, e sim dos procedimentos do ensaio clínico. Na página 68, o texto diz que eventuais abortos espontâneos devem ser considerados eventos adversos graves e reportados aos pesquisadores. No entanto, não há qualquer menção a casos ocorridos ao longo dos testes. O documento também não cita outros problemas reprodutivos que podem ser causados pela vacina da Pfizer.
Mulheres que estivessem amamentando durante ou após o período de testes da vacina também deveriam comunicar os pesquisadores. Não há menção no estudo sobre qualquer risco de “contaminação” do leite materno por conta da vacina.
No Brasil, o Ministério da Saúde indica a vacinação de grávidas com os imunizantes da Pfizer e Coronavac. O relatório da Pfizer demonstrou que não houve eventos adversos graves entre gestantes que tomaram a vacina. Os estudos da Coronavac não analisaram a segurança do imunizante nesse grupo, mas sua tecnologia de vírus inativado já foi testada em outras vacinas e é considerada segura para gestantes.
Por ora, a vacina Oxford/Astrazeneca foi vetada para grávidas e mulheres que deram a luz recentemente. O Ministério da Saúde analisa um caso de uma gestante que morreu por acidente vascular cerebral após tomar a vacina. Não há, até o momento, comprovação de que há ligação entre esses dois fatos. Contudo, por precaução, as aplicações do imunizante estão suspensas para esse grupo.
Esta verificação foi sugerida por leitores através do WhatsApp da Lupa. Caso tenha alguma sugestão de verificação, entre em contato conosco pelo número +55 21 99193-3751.
Editado por: Chico Marés