Circula pelas redes sociais que Bill Gates, cofundador da Microsoft, afirmou que a vacina contra a Covid-19 vai alterar o DNA das pessoas. Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Bill Gates afirmou que a vacina contra Covid-19 vai alterar o DNA das pessoas”
Texto em imagem publicada no Facebook que, até às 13h20 de 28 de setembro de 2020, tinha 467 compartilhamentos
A informação analisada pela Lupa é falsa. Bill Gates nunca afirmou que a vacina contra a Covid-19 vai alterar o DNA das pessoas. A publicação distorce um trecho de um texto publicado em 30 de abril de 2020 pelo próprio empresário em seu blog, o Gates Notes, intitulado “O que você precisa saber sobre a vacina contra a covid-19”. Esse conteúdo teve uma versão em vídeo. Nele, Gates demonstrou como as vacinas funcionam no organismo para combater uma doença. Mostrou também como agem as vacinas de RNA e DNA, que usam novas tecnologias consideradas por ele como promissoras contra a Covid-19.
Diferentemente do que sugere o post, o cofundador da Microsoft explicou que esse tipo de imunização “dá ao corpo o código genético necessário para produzir o próprio antígeno”, e não que altera o DNA das pessoas. As vacinas tradicionais introduzem uma versão inativa do vírus no corpo para levar o organismo a produzir anticorpos. As vacinas de DNA e RNA estimulam o sistema imunológico a neutralizar a doença de forma diferente, ao inserir no corpo um fragmento modificado do código genético do vírus. No caso da Covid-19, os cientistas têm usado uma receita para produzir a proteína spike, que permite a entrada do vírus nas células. Depois disso, essa molécula é reconhecida como inimiga pelo organismo, provocando uma resposta imune. Nada disso afeta o DNA das pessoas imunizadas.
A Fundação Bill e Melinda Gates é patrocinadora do laboratório Moderna, pioneiro no desenvolvimento desse tipo de vacina. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse método oferece vantagens sobre as abordagens tradicionais. Uma delas é a ausência de qualquer agente infeccioso no organismo, como um vírus inativo. A outra é a relativa facilidade de fabricação em grande escala. Por ser uma tecnologia recente, no entanto, os testes em humanos só avançaram até os estágios finais na pandemia da Covid-19.
Embora tenha demonstrado entusiasmo, o próprio Bill Gates afirmou em seu blog que, mesmo que as vacinas de DNA e RNA sejam promissoras, é preciso seguir buscando outras opções. “Ainda não sabemos como será a vacina da Covid-19. Até que o façamos, temos que seguir em frente com o máximo de abordagens possíveis”, escreveu ele em abril.
Até 3 de setembro, 321 vacinas eram candidatas a combater a Covid-19. Dessas, 40 já estão nos testes clínicos, conforme o boletim da OMS divulgado nesta segunda (28). Entre as 40 candidatas, seis são de DNA e quatro de RNA. Os laboratórios Moderna/NIAID e BioNTech/Fosun Pharma/Pfizer, que desenvolvem vacinas na plataforma de RNA, já iniciaram a terceira fase de testes.
A publicação verificada pela Lupa reproduz o título de um conteúdo publicado no site Blog do Dina e classificado como falso, omitindo o contexto original daquele texto. Em julho deste ano, outra peça de desinformação sobre vacinas de RNA e DNA circulou pelas redes sociais e foi verificada pela Lupa.
Conteúdos similares também foram verificados pelo Estadão Verifica e Boatos.org.
Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook.
Editado por: Maurício Moraes